Fantasia e Cia.

Prazer em imaginar.
 

12.3.09

Quem são os Watchmen?

Quando a DC Comics comprou os personagens da Charlton Comics, seu editor-chefe, Dick Giordano, resolveu apostar no talento de um roteirista chamado Alan Moore, e lhe pediu que criasse uma história para esses personagens. Algum tempo depois, Morre lhe trouxe uma história onde o Besouro Azul, o Pacificador, o Capitão Átomo e outros, eram retratados como heróis mais humanizados, com falhas morais e eventuais problemas psicológicos... O resto é história: Giordano não aprovou o uso dos personagens da Charlton, pois não podeiam ser usados em "temática adulta", mas pediu para Moore fazer "pequenas alterações" - Besouro Azul virou o Coruja, o Pacificador o Comediante, Capitão Átomo o Dr. Manhattan, e assim por diante - Watchmen foi lançada e revolucionou os quadrinhos americanos desde então. Não somente por humanizar os heróis, mas por trazer temas mais complexos e adultos, como geopolítica, conspirações governamentais, estupros e outras coisas mais, para os quadrinhos.

Lembro que provavelmente não estava "na idade adequada" quando li Watchmen pela primeira vez. Mas gostei do que vi mesmo assim... Não se tratava de um roteiro, a exemplo do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, que apenas "pretendia mostrar como os heróis podem ser sinistros e barra pesada", mas antes de uma história com enorme profundidade, cheia de mensagens ocultas, que poderia ser lida tanto por um pré-adolecente (como eu), quanto por um adulto, quanto por um físico nuclear ou um filósofo...

Peguemos apenas o Dr. Manhattan como exemplo: ele não era um grande personagem por conta de seus poderes "quase divinos", mas antes por conta das dúvidas existenciais que o cercavam. Certa vez ele diz "que um corpo vivo e um corpo morto tem o mesmo número de partículas, estruturalmente são a mesma coisa", o que apenas demonstrava seu gradual "afastamento" do sentido "humano" da vida. Fosse o personagem apenas um pretexto para Moore destilar uma mensagem materialista (como decerto muitos suporam), seria apenas uma "firula" do roteirista... Mas todo o processo que leva o Dr. Manhattan a valorizar cada ser humano como uma "espécie de milagre", sem que para tal precise recorrer a qualquer explicação religiosa, demonstra o quão profundamente Moore adentrou na personalidade de seus personagens.

Estou falando tudo isso, obviamente, porque acabei de ir ver o filme... Ele é profundamente fiel a obra em quadrinhos, e isso é tanto seu ponto forte quanto seu ponto fraco. Por um lado, sua fidelidade é amplamente favorável a obra em si, certos diálogos são paraticamente transcritos para o filme, assim como "ângulos de câmera" que se baseiam nos mesmos ângulos do belo desenho de Dave Gibbons (ilustrador da série em quadrinhos). Por outro lado, a própria crítica de Moore a todas as adaptações de roteiros seus para o cinema é muito válida: quadrinhos são quadrinhos, cinema é cinema. Seria preciso que o diretor, Zack Synder, "ousasse" um pouco mais para que a adaptação fosse um pouco mais do que "uma fiel adaptação", e se tornasse "um bom filme sobre uma história em quadrinhos" - temos vislumbres do que poderia tr sido, nos primeiros clipes do filme (geniais), mas infelizmente no decorrer dele o que vemos é apenas uma adaptação mesmo. O que não torna o filme ruim, poderia ser muito pior: ele poderia ter "ousado demais", e produzido uma bomba cinematográfica que nada teria a ver com os quadrinhos.

Mas, para quem foi ver, o que importa é que diversas mensagens e reflexões ocultas nos quadrinhos se repetem nas telas: será que os heróis na vida real seriam assim? Será que eles poderiam resolver os problemas do mundo? Será que seriam, antes de tudo, sua ruína? Será que a informação é o maior poder da Terra? Será que os fins justificam os meios?

Tudo se resume ao que Dr. Manhattan confessa: "eu posso fazer coisas assombrosas, mas não posso mudar a natureza humana".

***

Crédito da imagem: Warnerbros.

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1 comentários:

Blogger raph disse...

Referências Ocultistas em Watchmen, por Marcelo Del Debbio.

20.3.09  

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